21/03/2013 - Quartel recebia armas de várias comarcas



Com isso, suspeita-se que episódio de extravio seja um dos mais graves registrado no estado


Os desdobramentos das investigações envolvendo o caso de um possível desvio de armas em quartéis do Exército de Juiz de Fora sugerem que este é o episódio de maior vulto registrado no estado, já que os armamentos que deveriam ter sido destruídos podem ser oriundos de vários municípios mineiros. Segundo um dos procuradores do Ministério Público Militar (MPM) que cuida da apuração, Antônio Pereira Duarte, apesar de não haver estimativa da quantidade de materiais derramados, o caso caminha para ser considerado o mais grave ocorrido no estado. "Em Minas, não temos número expressivo de condutas criminosas como esta, não há estatística que possa causar esta preocupação. Asseguro que nunca assisti uma situação que nos causasse tanta preocupação quanto esta que estamos investigando. Este é o nosso calcanhar de Aquiles." A suspeita do desvio de armas foi revelada na última semana pela Tribuna, na segunda reportagem da série "Basta de violência".

De acordo com o procurador, é precipitado estimar a quantidade de armas que pode ter sido extraviada, porém, "há indícios de que o crime ocorreu. Além das armas oriundas da Campanha do Desarmamento e da Justiça do município, Juiz de Fora recebe armamentos de várias comarcas, já que o 4º Depósito de Suprimentos (com sede na cidade) é um dos que tem competência para realizar a destruição dos materiais. Ela é centralizada neste órgão, já que tal trabalho demanda pessoas e locais especializados. Não é um trabalho que possa ser feito por qualquer um."
Antônio Duarte lembrou que, até então, só havia o registro de um caso recente envolvendo o desvio de armamento feito por militar em Juiz de Fora. "Um soldado que servia na 4ª Brigada de Infantaria Motorizada desviou um carregador de munição 9 milímetros, alegando que usaria o material para quitar uma dívida com um traficante."
O procurador informou ainda que será realizado levantamento de todas as armas apreendidas pela Polícia Civil e que ainda estão nas quatro varas criminais e no Tribunal do Júri do município. Todas as armas apreendidas com criminosos e as recolhidas na Campanha do Desarmamento são levadas para o Exército para serem destruídas. No caso das apreensões, primeiro, elas são encaminhadas à Justiça, onde ficam à disposição durante a tramitação do processo. "É um número significativo. Será preciso uma perícia metalográfica para saber qual a origem e como foram parar nas mãos de um criminoso. Este percurso é trabalhoso", esclareceu.
O inquérito do desvio de armas corre em segredo de Justiça para que as investigações não sejam prejudicadas. "Estamos trabalhando com medidas de caráter invasivo. Nosso trabalho é incessante, e estamos tomando todas as medidas para puxar o fio deste novelo e encontrar todos os responsáveis", afirmou Antônio Duarte. Ainda nesta semana, o procurador geral do MPM deve nomear três outros promotores para atuar no caso.

Cai entrega de armas e crescem pedidos de porte
No momento em que se apura o possível desvio de armas de quartéis da cidade, outra preocupação em relação à circulação de armamento vem à tona: de um lado, a crescente procura dos civis pelo porte de arma de fogo e, do outro, a redução da entrega de material na Campanha do Desarmamento. No ano passado, caiu pela metade a entrega de armas no município na comparação com 2011, passando de 410 para 196.
Enquanto as 196 armas foram entregues na Polícia Federal (PF), 136 pessoas procuraram a delegacia para tentar a concessão de porte de armas de fogo. Já no estado, para cada dez armas entregues, 29 entram nas ruas legalmente todos os dias.
Dados da Polícia Federal apontam que, dos pedidos recebidos em Juiz de Fora, 36 foram deferidos, sete indeferidos e outros 83 ainda estão em processo de análise. Uma mudança implementada pela instituição neste ano deve fazer cair o número de deferimentos. Agora, os pedidos não são mais analisados em Belo Horizonte, as delegacias regionais ganharam a competência para fazer a avaliação de conceder ou não a posse de arma. "A grande preocupação é com o destino que estes armamentos podem ter. Muitas podem acabar caindo na ilegalidade se forem roubadas, por exemplo. Estamos sendo criteriosos nesta avaliação. Só poderá ter arma quem provar a necessidade real. Vamos restringir a concessão ao máximo para que a população civil não fique totalmente armada", afirma o delegado chefe da Polícia Federal, Cláudio Dornelas. Segundo ele, há diversos boletins de ocorrência de furto e roubo de armas legais sendo investigados pela PF.
Apesar de não haver dados de anos anteriores, o delegado afirma que a procura crescente é "fato" e, na sua avaliação, está relacionada com a escalada na violência vivida no município. "A maioria das pessoas que vem até nós quer a arma para se sentir mais segura. Porém, é uma falsa sensação de segurança, já que a pessoa não está capacitada e, provavelmente, não saberá reagir em situações extremas."
O doutor em ciência política Leandro Piquet Carneiro afirma que o grande problema ainda é a circulação de armamentos na ilegalidade. "O grande problema do Brasil não é o pedido do chefe de família que quer, de alguma forma, resguardar sua segurança, o gargalo está no circuito dinâmico da entrada ilegal destas armas. É muito mais fácil regular quem tem arma do que colocar a mão no mercado ilegal." Para ele, muitas delas chegam ao mercado negro pelas mãos de agentes de segurança pública.

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