21/04/2013 - Paraguai vai às urnas para sair do limbo


Eleição que deve reconduzir Partido Colorado ao poder é primeiro passo para fim do isolamento regional

Tatiana Farah


SÃO PAULO Sob o olhar de observadores internacionais e com troca de acusações de compra de votos, o Paraguai vai às urnas hoje para voltar a ter um presidente escolhido pelo voto popular depois da deposição de Fernando Lugo, no ano passado. De acordo com as pesquisas de intenção de voto, deve retornar ao poder o Partido Colorado, que governou o país por mais de 60 anos até ser desbancado com a eleição de Lugo em 2008.
O empresário colorado Horacio Cartes aparece à frente nas pesquisas, em algumas delas com até 14 pontos de distância do liberal Efraín Alegre, aliado do presidente Federico Franco, que assumiu a vaga de Lugo em junho. Ainda de acordo com as pesquisas, Lugo deve ser eleito senador, mas não conseguiu alavancar a candidatura à Presidência do médico Aníbal Carrillo, da Frente Guasú. A esquerda não formou aliança em torno de um único nome e entrou na disputa com quatro dos dez presidenciáveis.
- A esquerda está partida em quatro e esse foi seu grande erro. O mais provável é o triunfo de Cartes, o que representa um retrocesso político para o país- analisa o pesquisador argentino Félix Pablo Friggeri, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
Multimilionário, Cartes tem mais de 20 empresas e atua nos ramos do tabaco e do agronegócio. Novato na política e filiado ao partido desde 2009, conseguiu mobilizar toda a máquina colorada a seu favor. Tem um discurso desenvolvimentista, mas de garantia da situação agrária atual, o que pode aumentar a tensão no campo. Com seu discurso conservador, irritou os movimentos de defesa dos direitos humanos na semana passada, ao dizer que daria um tiro nos testículos caso descobrisse ter um filho homossexual.

"Brasiguaios" divididos

Cartes tem sido apoiado pelos brasiguaios, como são chamados os brasileiros radicados no país e seus descendentes, com maior poder aquisitivo. Já os brasiguaios "de baixo", mais pobres, como explica Fábio Luis Santos, pesquisador do Ipea e professor da Unila, tendem a se dividir entre os colorados e Efraín Alegre.
- O principal problema do Paraguai é o trabalho. No campo, há uma situação grave, agudizada pela expansão da soja, o que tem resultado no inchaço das cidades. O temor é que, no poder, o partido Colorado aumente a repressão aos movimentos sociais e campesinos- diz Santos.
A eleição presidencial pode ser a porta de reingresso do Paraguai ao Mercosul. O país foi suspenso desde a deposição de Lugo, o que foi considerado um golpe pelos países do bloco. Desde quarta-feira, estão em Assunção parlamentares e especialistas em justiça eleitoral da Unasul e do Parlasul, entre eles brasileiros. São observadores que devem atestar se a eleição será legítima. Os principais partidos têm trocado denúncias de compra de voto e, na sexta-feira, um senador colorado chegou a ser suspenso do Senado.
- Por enquanto, Assunção está parecendo uma Suíça. Há um aparente desinteresse pela eleição. Será uma eleição desidratada, polarizada entre colorados e liberais. A queixa que ouvimos é dos partidos de esquerda, que dizem ter se tornado invisíveis - diz o senador Roberto Requião (PMDB-PR), que está no Paraguai como observador do processo eleitoral.
Segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, o retorno do Paraguai ao Mercosul com Cartes pode gerar tensão no bloco. Além da oposição forte à Venezuela, a ideologia do Partido Colorado o afasta dos governos de Brasil, Uruguai e Argentina.
- É provável que o Paraguai seja um elemento de tensão, mas eu matizaria essa leitura por conta da influência do Brasil nos negócios paraguaios- afirma Fábio Luis.
fonte: resenha

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