07/11/2015 - Brasil na retaquarda da Argentina na corrida por satélites
Brasil perde para Argentina na corrida por satélites, afirma especialista.
Apesar de décadas de investimentos, o Brasil não
obteve os resultados de seus pares no Brics — Rússia, Índia e China — no
setor espacial. Além disso, está perdendo para a Argentina, que coloca
em órbita seu segundo satélite geoestacionário e constrói o terceiro em
seu próprio território. A avaliação foi feita pelo presidente da Visiona
Tecnologia Espacial, Eduardo Bonini, em audiência pública na Comissão
de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), nesta quinta-feira (5).
O presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Rubens Barbosa, atribuiu
parte dos problemas a "uma comédia de erros", que começou com a oposição
política ao Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (TSA) Brasil-Estados
Unidos. Esse acordo foi assinado em 2000 para viabilizar o lançamento de
satélites da base de Alcântara, no Maranhão, por empresas privadas
norte-americanas. Com a mudança de governo, o TSA foi colocado de lado,
com a assinatura de um acordo semelhante com a Ucrânia, em 2004.
Segundo Barbosa, para lançar da base de Alcântara o foguete com o
satélite previsto no acordo com a Ucrânia, o governo brasileiro
precisava do tratado que havia vetado — os Estados Unidos dominam 85% do
mercado de lançamento de satélites de comunicação. Ao contrário do
acordo com Washington, que ainda está parado na Câmara dos Deputados, a
cooperação com o governo de Kiev foi rapidamente aprovada pelo
Congresso.
O dirigente da Fiesp lembrou que, após 12 anos, o foguete não foi
lançado, obrigando o governo brasileiro a cancelar o acordo com a
Ucrânia em julho de 2015. Barbosa, que era embaixador brasileiro em
Washington na época da assinatura do acordo com os Estados Unidos,
garantiu que o tratado não foi feito para beneficiar empresas
norte-americanas, mas para viabilizar a base de Alcântara, que receberia
de US$ 40 milhões a US$ 50 milhões por cada lançamento de satélite.
Barbosa contestou informação dada em 2013 pelo então chanceler
Antonio Patriota de que o governo havia retirado do Congresso o projeto
de decreto legislativo que prevê a homologação do acordo pelo Congresso.
Na presidência da reunião da CRE, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP)
informou que a última movimentação desse projeto de decreto legislativo (PDL 1446/2001)
se deu na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados,
com a leitura de relatório sobre a proposta pelo deputado Marcos Rogério
(PDT-RO).
Para Barbosa, uma das opções é o Congresso Nacional dar
prosseguimento ao exame do projeto de decreto legislativo, já que ele
não foi retirado pelo governo. Conforme o ex-embaixador em Washington,
se não tivesse havido essa "contaminação ideológica" 15 anos atrás, o
Brasil teria desenvolvido a base de Alcântara para fins comerciais, "e
os recursos poderiam financiar" as demandas para o desenvolvimento da
área.
A senadora Ana Amélia (PP-RS) observou que "o
Brasil e a Rússia estão dentro do Brics e nós fizemos um acordo com a
Ucrânia". Em seguida, acrescentou, "a Rússia invade a Ucrânia e
descobre-se que a fábrica [de foguetes] fica dentro de território
russo". Para a senadora, "isso parece ser equivocado em todos os
aspectos".
Diante do diagnóstico de Eduardo Bonini quanto à
difícil situação financeira da indústria que opera no setor espacial, o
senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) questionou a razão de as empresas
privadas não terem capacidade de antever os problemas. Bonini explicou
que 70% a 80% dos negócios nessa área são demandados por governo.
— São programas estratégicos. São projetos de
altíssimo risco e, muitas vezes, sem retorno. Não existe lançador de
satélite que traga retorno econômico — isso é uma estratégia de Estado,
uma política de Estado. A utilização comercial da base de Alcântara pode
fomentar a própria infraestrutura a se capacitar para projetos maiores,
pode ajudar no desenvolvimento, mas é muito difícil ver um lançador de
satélite dar retorno para as suas empresas — acrescentou o executivo. Agência Senado
Comentários
Postar um comentário