12/06/2016 - Guerra sangrenta há 150 anos não termina com ameaças para MS
A
única guerra na América do Sul envolvendo quatro países (Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai) e com confronto mais violento registrado
no continente aconteceu há 152 anos. A Guerra do Paraguai, que se
iniciou em 1864 e só terminou em 1870, deixou rastros em Mato Grosso do
Sul mesmo depois de mais de um século e meio. Para começar, se não
houvesse a vitória brasileira, o Estado provavelmente pertenceria ao
país vizinho.
Essa conquista nacional começou a ser desenhada com uma batalha
decisiva, conhecida como Riachuelo. Os paraguaios, que eram mais fortes,
acabaram perdendo nesse episódio e a defesa de uma região
fronteiriça estratégica foi conquistada, mesmo sem os devidos
equipamentos e estrutura que eram oferecidos à Marinha do Brasil.
A disputa naval foi travada em 11 de junho de 1865. Neste sábado
(11), completou-se 151 anos dessa vitória que ajudou a manter o então
Mato Grosso anexado ao país.
Naquele ano, a Marinha, que veio se instalar em Ladário em 1873,
conseguiu vencer as tropas paraguaias no rio Riachuelo, um afluente do
rio Paraná que fica em território argentino e é caminho para acesso ao
mar. A conquista, considerada a mais importante para a força brasileira,
tornou-se motivo de orgulho, mas revelou também deficiências que
perduram com o tempo.
"O mundo mudou da época da Guerra do Paraguai. As ameaças também.
Temos hoje o crime organizado e o terrorismo como preocupações",
destaca.
DESPREPARO DE SÉCULOS
O paralelo entre o passado e o presente mostra que as forças de
proteção do país não tinham, e ainda não tem, estrutura adequada em caso
de ataque.
O Paraguai era dono da melhor frota fluvial da América do Sul,
enquanto o Brasil contava com navios preparados para navegar no alto
mar, mesmo tendo uma extensa área fluvial a ser monitorada.
O país dependia muito mais da atuação de seus combatentes, do que dos
equipamentos que eram oferecidos pelo governo, que na época era do
Segundo Reinado.
"Precisamos pensar mais em defesa, tanto no militar como na segurança
pública. Temos que estar prontos para defender nossos interesses",
alerta o Contra-Almirante, comentando sobre a situação atual e o que
aconteceu há mais de um século.
COMO SE CHEGAR À VITÓRIA
Indicação do local onde foi travada a Batalha do Riachuelo. Reprodução / Marinha do Brasil.
O segundo está atrelado ao desempenho de Francisco Manoel Barroso, o
Almirante Barroso. Ele comandou a força naval brasileira em 11 de junho
de 1865. Depois de escapar da armadilha, retornou à foz do Riachuelo e
com a Fragata Amazonas derrotou os adversários. Com isso, a passagem
para o Oceano Atlântico não foi tomada pelo Paraguai e se manteve no
domínio brasileiro.
"Fazemos questão de cultuar alguns valores. Nessa época de
comemoração da Batalha do Riachuelo abrimos a Marinha para a população e
tentamos mostrar o que foi preciso para vencer. O Almirante
Barroso mostrou moral, comprometimento, ética, propósito e resiliência.
Achamos importante que as pessoas saibam disso", opinia o
Contra-Almirante Petronio.
O QUE NÃO MUDOU
Parte da frota naval do 6º Distrito de Ladário. Foto - Divulgação / Marinha do Brasil
A atuação da Marinha resultou na manutenção do atual Mato Grosso do
Sul como território brasileiro. Mas as falhas do passado, envolvendo a
falta de estrutura, perdura. "O Brasil não estava preparado para a
guerra", reconhece o atual comandante do 6º Distrito Naval de Ladário.
"Hoje as ameaças são outras, mas ainda precisamos pensar mais em
defesa", completa.
Apesar de constitucionalmente a Marinha não atuar no combate direto
ao tráfico internacional de drogas, tráfico de pessoas, atuação do crime
organizado na fronteira e mesmo terrorismo, existe o trabalho de
inteligência do 6º Distrito Naval que procura monitorar a região, tanto
no Estado como em Mato Grosso.
Como a força militar tem estrutura naval mais eficiente do que outras
corporações que atuam na fronteira, tais como Polícias Federal,
Militar, Civil e Militar Ambiental, existe a possibilidade de trabalho
conjunto. Essa parceria está sendo mais amplamente sendo feita com a
Polícia Militar Ambiental.
GUERRA ONDE TODOS PERDERAM
A historiadora e professora em Ladário, Terezinha Assad, analisa que o
conflito teve vitória bélica, mas todos os lados sofreram derrotas.
"O Paraguai deixou de ser a grande potência da América do Sul que
era, o país perdeu uma grande parte de sua população e a sua economia
foi devastada. O Brasil, embora vitorioso, teve também grandes prejuízos
financeiros com o conflito", indica.
Para conseguir manter-se em combate ao longo de seis anos o país pegou empréstimos estrangeiros, principalmente da Inglaterra.
Corpos de paraguaios no campo, em imagem de 1866. Foto - Fundação Biblioteca Nacional.
Nesse período, a economia do país foi trocada de produtos
manufaturados para produção agrícola, porta aberta para o contrabando e
um dos maiores produtores de maconha da América do Sul, além de ser o
principal fornecedor da droga para o Brasil. O caminho para esse
entorpecente ser distribuído passa justamente por Mato Grosso do Sul.
"Passados 150 anos da Guerra do Paraguai, outros tipos de questões
fronteiriças estão aí e que precisam ser refletidas, como é o caso dos
'brasiguaios' (há conflito envolvendo brasileiros e seus
descendentes que vivem no país vizinho com os nativos por conta de
terra), a questão do uso da energia da Usina de Itaipu, o preparo das
forças navais brasileiras para enfrentar um conflito externo, a questão
do contrabando de mercadorias, e os tráficos de drogas, armas e de
pessoas. São questões que não podem ser relegadas ao esquecimento", fonte: Por RODOLFO CÉSAR - CORREIODOESTADO
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