28/12/2014 - A nova Cuba embarca pelo porto de Mariel

Moderno terminal inaugurado em janeiro com financiamento do BNDES parece uma ilha dentro da ilha. Comporta área com estrutura ágil e eficiente para exportação e importação de mercadorias. 

FONTE: clickrbs por Rodrigo Lopes, enviado especial a Cuba

Ao final de 44 quilômetros desde Havana, a estrada muda de aspecto. O que era um caminho esburacado, cheio de solavancos, passa a ser uma autoestrada de asfalto impecável com duas pistas duplas. Máquinas trabalham em grandes anéis viários e mudas de palmeiras acrescentam um toque colorido ao cenário cinzento de obra recém acabada. São os primeiros sinais de que o visitante está aproximando-se da maior obra construída em Cuba desde a Revolução de 1959: o novíssimo porto de Mariel.
Erguida pela brasileira Odebrecht em parceria com a cubana Quality, com cerca de US$ 800 milhões financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a estrutura colossal surge do lado oposto ao antigo terminal da Baía de Mariel. Esse, bem menor, permanece em operação e segue à risca a cartilha socialista. Em um de seus muros está escrito: "Artemiseños ao combate com Fidel" (referência à província de Artemisa, onde fica Mariel) e imagens de Ernesto Che Guevara estão próximas dos portões.
Nos arredores do novo porto, ao contrário, não há sinais de socialismo. Há pressa, há máquinas, há dinheiro. E até poderíamos esquecer, por alguns minutos, de que estamos em Cuba.
Subproduto da construção do terminal, a nova rodovia vai ligar o porto à Autopista Nacional, que corta o país. Paralela à estrada, por onde passam, por enquanto, poucos caminhões e quase nenhum carro particular, corre também uma recém inaugurada ferrovia. No acesso ao terminal, cujas operações estão a cargo da empresa PSA, de Cingapura, movimentam-se carros da polícia, exército e veículos novos de uma brigada de incêndio.
É um dos lugares mais seguros da ilha e tão sofisticado quanto os maiores terminais do Caribe, os de Kingston (Jamaica) e de Freeport (Bahamas).
O carro com a reportagem chega no máximo até os portões da área portuária. Logo, é interceptado por um dos mais de 40 seguranças cubanos no local. Imprensa não pode entrar sem autorização especial do governo. À distância, é possível observar a estrutura, pouco movimento de carga e apenas um navio de bandeira não identificada.
Área especial para atrair empresas
Questionada pela oposição no Brasil – que vê sintonia ideológica entre o governo do PT e o dos irmãos Castro – e motivo de controvérsia durante a campanha devido às cifras do empréstimo, Mariel ganha novos significados a partir da retomada das relações diplomáticas entre EUA e Cuba.
A Flórida fica a 140 quilômetros daqui. O governo brasileiro espera, com a suspensão do embargo, ser lembrado pelo regime cubano entre os parceiros de primeira ordem. As exportações brasileiras para a ilha quadruplicaram na última década, chegando a US$ 447 milhões (neste ano até novembro), alçando o Brasil ao terceiro lugar na lista de parceiros da ilha.
O porto será acompanhado de uma Zona Especial de Desenvolvimento Econômico criada nos moldes das existentes na China. Ali, ao contrário do que ocorre no resto do país, as empresas poderão ter capital 100% estrangeiro. Tamanha estrutura tem potencial para mudar, senão toda a ilha, pelo menos em boa parte a vida dos moradores de Mariel.
Por enquanto, esse otimismo passa ao largo do povoado.
– Os brasileiros já se foram, e também se foi o dinheiro – diz Helena, atendente de um restaurante simples, de gestão estatal, próximo ao mar.
Durante a construção do terminal portuário, era comum o trânsito de engenheiros da Odebrecht pelo povoado, onde há apenas um pequeno banco, um mercado e uma padaria. Helena os via pelas ruas, mas não os recebia em seu estabelecimento porque os funcionários almoçavam em restaurantes que tinham contrato com a empreiteira.
– Os brasileiros contratavam um motorista por US$ 500 ao mês. Hoje, voltou a ser o que era, o cidadão cubano não ganha nem US$ 50 para fazer esse serviço 
– acrescenta.
Outro morador, identificado como Domingos, diz que os investimentos em melhorias de estrutura se dão apenas fora da cidade, na rodovia e na ferrovia. A afirmação pessimista contrasta com o movimento de máquinas que consertam a rua principal do povoado.
– Mas o senhor tem esperança de que vai melhorar? – insisto.
– Só vendo, estamos esperando – responde.
Enquanto esperam, os moradores de Mariel têm como principal fonte de renda o trabalho em uma termelétrica e uma fábrica de cimentos da região.

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