23/08/2015 - Reunião no Clube Militar frustra quem foi a Copacabana
Reunião no Clube Militar frustra quem foi a Copacabana pedir volta da ditadura.
Evento foi marcado por ataques ao PT, ao governo, a Dilma e a Lula.
Rio - Aguardando o elevador no quinto andar do Clube Militar, no Centro, três mulheres
lamentavam o resultado da reunião encerrada minutos antes e criticavam a
“falta de ousadia” dos militares para combater o comunismo. O diálogo
não é de 50 anos atrás: Tereza Alves, que se diz baronesa, e as irmãs
Regina Helena e Leila Mello passaram a tarde de quinta-feira em debate
com a presença do alto oficialato da reserva do Exército. Saíram
indignadas, pois ansiavam por uma palavra de incentivo ao desejo de uma
intervenção militar para tirar a presidenta Dilma Rousseff do poder. Mas
ouviram de generais que cabe às Forças Armadas apenas defender a
Constituição.
O trio de senhoras
sintetiza um grupo que foi às ruas nas manifestações de domingo passado
e, apesar de minoritário, chamou atenção pela violência dos cartazes.
Os intervencionistas — aqueles que defendem o retorno das Forças Armadas
ao poder para tirar Dilma do governo — chegaram a dizer que a
presidenta deveria ter sido morta nos porões da ditadura, quando foi
presa e torturada na década de 1970. Pensamentos que o alto escalão do
Exército refuta, pelo menos publicamente: apesar das violentas críticas
ao governo, os generais do Rio se colocam contrários a qualquer
sentimento golpista e repudiam seus apoiadores.
“Isso aí é um público particular que vem aqui,
não representa a sociedade. Nem eu nem os chefes militares concordamos
com qualquer intervenção”, garante o presidente do Clube, general da
reserva Gilberto Pimentel.
No evento marcado por ataques ao PT, o general Augusto Heleno resumiu o sentimento.
“A verdade é que a esquerda faz bullying com a direita aqui no Brasil”,
afirma Heleno, sem poupar críticas a Dilma, Lula e ao governo. Quem
pensou na defesa de um novo golpe, porém, se decepcionou. “A solução
para crise só vai se dar dentro da legalidade”, diz.
Diante do balde
de água fria jogado pelos militares, as intervencionistas prometem se
engajar e ‘tomar’ Brasília com suas ideias ‘revolucionárias’. “Vamos
invadir o Planalto em breve, porque manifestação virou Carnaval”,
prometem. “O comunismo precisa do capitalismo”, discursa Tereza,
moradora da Barra da Tijuca, e filha de militar. Moradoras do Leme e
também filhas de militar, as irmãs Regina e Leila garantem que vão
acompanhar a amiga. “Está nítido que eles não podem dizer o que pensam”,
afirma Regina Helena. “Me parece que hoje esses generais aí estão
pacíficos demais”, reclama Leila.
Presidente do Clube nega golpismo
Logo na entrada do Clube Militar, uma placa
recorda o dia 31 de março de 1964, data em que as tropas começaram a
depor o então presidente João Goulart e mergulharam o país em 21 anos de
ditadura. O clima da época, garante o general Gilberto Pimentel, está
longe do edifício da Avenida Rio Branco.
“Não tem medo de comunismo, isso acabou, não
existe mais. Não tem mais União Soviética, Cuba está com os Estados
Unidos. Meu filho, o Exército está aqui para cumprir a lei. Esse pessoal
que pede intervenção é o que o Lula chamava de aloprados, que não
entendem as mudanças do Brasil e do mundo”, afirmou o militar, após o
evento. Segundo ele, corrupção é algo que “sempre existiu e existirá,
inclusive nos governos militares”. “Houve desvios, mas numa escala
menor. Não sei de casos, apenas que corrupção é algo que sempre houve”.
ATÉ ZUMBI DOS PALMARES VIRA ALVO DOS MILITARES
Compareceram ao Clube Militar oficiais da
reserva, homens de em média 60 anos, e civis favoráveis à intervenção. A
ideia era debater os rumos do país e prestar uma homenagem ao Dia do
Soldado, mas acabou sobrando até para o líder negro Zumbi dos Palmares.
“A quem interessa valorizar o Zumbi e não reconhecer o papel da princesa
Isabel na abolição da escravidão?”, indagou à plateia o general Sérgio
Castro, ao enumerar os pontos escolhidos pelo Clube como provas da
ausência da “moralidade nacional”.
Na sequência, o general Augusto Heleno, chefe
da primeira missão das Nações Unidas para o Haiti, em 2004, deu palestra
onde criticou a esquerda, a Comissão da Verdade, o PT e lembrou os
“valores” do tempo da ditadura.
Após o ato, um civil abraçou o general enquanto
ele conversava com a reportagem e disse em seu ouvido que “todos
deveriam ter sido fuzilados após 1964”. Heleno sorriu, timidamente.
“Sempre aparece quem extrapole a legalidade”,
argumentou. “O que as pessoas querem são os valores”, opinou o militar,
que dividiu a mesa com o filósofo Denis Rosenfield, defensor da renúncia
de Dilma.
Quando o público pôde participar do debate, uma
das primeiras perguntas foi a respeito da possibilidade de Heleno
liderar uma intervenção militar. Ele negou com veemência.“Existe um
descompasso, sabe? Quando tem muita gente na rua, você tem Vasco,
Flamengo, Fluminense... E as pessoas querem colocar para fora seus
anseios. A gente atura e só faz repudiar isso. Convivi com os que estão
no comando e sei que não há nada disso”.
As intervenções seguintes mencionaram outros
‘hits’ das manifestações da direita, como o avanço do comunismo, o temor
do Foro de São Paulo, tudo minimizado pelos palestrantes para uma
plateia cética, que segue acreditando que há um golpe em curso no
Brasil. “Eu sinto náuseas ao ouvir essas respostas”, declarou Marta
Serrat ao ouvir durante o evento, mais uma vez, que uma intervenção
militar está fora de cogitação.
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