04/02/2013 - Estação brasileira na Antártica que foi destruída por incêndio está sendo reconstruída


Estação brasileira na Antártica que foi destruída por incêndio está sendo reconstruída

O incidente matou dois militares no ano passado, e hoje pesquisadores trabalham para reconstruir o que o fogo transformou em cinzas. G1/fantastico

Uma viagem ao extremo sul do planeta. O destino do Fantástico é a estação brasileira na Antártica, destruída no ano passado por um incêndio que matou dois militares.
Os repórteres Sonia Bridi e Paulo Zero foram os primeiros a chegar à estação depois do acidente. E mostram o difícil trabalho de reconstruir, num ambiente tão hostil, o que o fogo transformou em cinzas.
O Fantástico chegou à Baía do Almirantado, onde fica a estação brasileira, a bordo do Ary Rongel, um dos cinco navios que a marinha mobilizou neste verão.
O cargueiro alemão Germânia serve de base para 76 operários e oficiais do arsenal de marinha. Eles estão fazendo o desmonte dos destroços.

Um desafio e tanto, num dos ambientes mais hostis do planeta, onde os ventos podem chegar a 300 quilômetros por hora. Em dois meses e meio, a área está quase limpa.
Tesouras mecânicas e tratores foram levados para cortar as estruturas de aço. Seiscentas toneladas já ocupam três porões do Germânia. Quase toda a estação virou ferro retorcido.
Dá pra imaginar a intensidade do calor olhando as vigas. 8mm ou 9mm de espessura de ferro e, mesmo assim, envergaram com o calor. Mas uma avaliação dos engenheiros diz que essa estrutura com alguns reparos pode ser mantida pelo menos até a próxima primavera. E, assim, abrigar as máquinas e equipamentos durante todo o inverno.
Imagens inéditas mostram o esforço para tentar salvar os militares e a estação. O combate ao incêndio começou logo depois da meia-noite.
“Nós nos dirigimos para os abrigos mais próximos e ali ficamos aguardando. O grupo base continua combatendo. A memória mais difícil foi durante ainda, a gente tava no módulo, e houve nossos amigos que faleceram ainda pedindo socorro pelo rádio”, contou Henrique Wajengerg, médico.
Os tanques de armazenamento de combustível têm capacidade para trezentos mil litros de óleo. O que dava pra sustentar a estação por dez meses. A cada semana era feita uma manobra transferindo o combustível que estava neles para tanques de serviço que ficavam dentro da estação. E foi durante uma manobra dessas que começou o incêndio. O militar responsável por esse trabalho foi indiciado pelo Ministério Público Militar. O processo corre em segredo na Justiça Militar.
Segundo o inquérito, o primeiro sargento Luciano Gomes de Medeiros, que se feriu nas mãos durante o incêndio, iniciou a manobra de transferência e foi participar da comemoração de despedida de uma pesquisadora - e não voltou a tempo para fechar as válvulas - provocando o vazamento. Ele vai responder por dano a instalações militares e por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Dois militares morreram tentando apagar o incêndio.
“Isso foi assim um ato de solidariedade, heroísmo e que marcou muito a gente”, conta a cientista Erly Costa.
A cientista Erly Costa atravessou aquela madrugada do lado de fora. “Eu saí só com a roupa no corpo. Eu não consegui pegar computador. Não consegui pegar nada da pesquisa. Roupa do quarto, do camarote, nada. Mas saí com vida”, declara.
Nas primeiras luzes do dia, o fogo consumia os alojamentos e laboratórios. A estrutura de metal queimou por dentro. Só se via a fumaça preta saindo pelas chaminés.
Da base polonesa chegou o primeiro socorro - de barco. Com todos a salvo, poucos dias depois uma equipe voltou. Em homenagem aos mortos, ergueu duas cruzes.
As janelas foram lacradas para evitar que a neve entrasse nos escombros. O gerador de energia, onde começou o fogo, foi carregado no navio Ary Rongel. Deformado pelo calor, o gerador foi peça fundamental na perícia feita no Brasil.
A limpeza de todo o material tóxico continuou até o início de abril. Fazia muito frio e o mar começava a congelar.
“Já estava muito gelo. A gente quase não conseguiu sair da Baía do Almirantado”, contou Marcelo Seabra, comandante do Ary Rongel.
Este ano, o Ary Rongel é um dos três navios da Marinha que abrigam pesquisadores lá. Em um experimento, por exemplo, cientistas de três universidades estão colhendo amostras do fundo do mar.
“Como o mar ajudou muito nestas três semanas que a gente estava a bordo. Rendeu bem e a gente conseguiu bastante dado na área de geofísica”, diz Arthur Ayres Neto, pesquisador.
Há pesquisadores em refúgios e acampamentos em vários pontos da Península Antártica. O professor Batista pesquisa plantas, fungos e algas. Os pinguins no gorro mostram que é um veterano, um para cada verão passado aqui.
“A gente que vê as condições desse pessoal que está retirando todo o resto lá. Eu fiquei impressionado. Eu tinha desconfiança da possibilidade de retirar tudo isso diante das condições ambientais daqui. É vento, é neve, é muito difícil”, disse Antônio Batista, pesquisador.
Em terreno mais alto, a estação meteorológica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais não foi atingida. Painéis solares foram instalados para que ela não parasse nos sete meses em que, pela primeira vez em 28 anos, a estação ficou vazia.
“Nossa missão de reativar a estação meteorológica depois do incêndio foi um sucesso”, afirmou André Barros, engenheiro.
Do outro lado da baía, o acampamento da equipe da professora Erly. O laboratório está no refúgio emprestado pelo Equador. E os pesquisadores se acomodam em barracas. Eles estudam as escuas. As aves são atraídas para armadilhas, capturadas, medidas, pesadas.
Amostras das penas, e do sangue, para saber se elas estão contaminadas com metais pesados. Escuas são predadoras - caçam filhotes de pingüins, mas nessa época, eles já estão maiores. A penugem com que nasceram sendo substituída pela plumagem branca e preta. Ainda ganham comida na boca, mas em um mês vão ter que se virar sozinhos.
Uma pinguineira fica ao lado da estação polonesa que é a vizinha mais próxima da nossa estação. Lá, o trabalho dos brasileiros está tentando entender o que está acontecendo com esta espécie, que é a mais ameaçada da Antártica. A população de pinguins Adele está diminuindo de maneira assustadora.
Mesmo sem o conforto da estação, os estudos não pararam.
“Neste ano, nós temos cerca de 200 pesquisadores, que é uma quantidade maior do que normalmente a gente faz”, diz o comandante de Mar-e-Guerra José Paes.
A nova estação levará ainda alguns anos para ser construída. Um concurso internacional de arquitetura vai definir o projeto.
“Será uma estação voltada para a pesquisa, que é isso que nós fazemos lá na Antártica, moderna. Com todos os requisitos de segurança para garantir que outros incidentes não venham a causar o dano que este último causou”, ressaltou o Almirante Moura Neto, comandante da Marinha.
Mas ainda este mês, novos alojamentos estarão montados. Os módulos pré-fabricados serão instalados em cima do heliponto - aproveitando a base sólida. Poderão abrigar 60 pesquisadores e os militares do apoio.
“A gente está se cercando de toda a segurança possível. Colocando outros geradores de emergência, etc. Sistemas de alarmes. Tudo para manter a segurança desse pessoal aqui durante o inverno”, contou José Paes.
E já no próximo verão, são os pesquisadores que voltam a ter uma casa na Antártica.
“A Antártica é uma questão de soberania nacional”, disse Antônio Batista.
“A gente pode. A gente sabe que como brasileiro a gente está sempre superando. Sempre buscando. E a gente tem condição de mostrar e fazer melhor do que já teve”, completou Erly Costa.

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