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01/02/2013 - De volta ao Felinto Perry


De volta ao Felinto Perry

Acabamos de chegar-estou postando às 16hs1O locias. A faina de encalhar o Mar Sem Fim, depois que ele flutuou ajudado pelas bóias, aconteceu até às 14hs3O.
Em uma hora ele navegou, puxado e empurrado por outros barcos, do ponto que estava até encalhar, ainda um pouco longe da praia.
Voltando para o almoco.
Quando vi que não havia mais nada a fazer, corri até a Base Fildes para tentar passar alguma fotos. Mas justo naquele momento a rede chilena saiu do ar. Pode? Todos estes dias funcionou legal, permitindo que eu atualize o site. Hoje, na hora mais importante, deu pra trás.

Ainda tentei passar fotos pelo celular, mas também não consegui.
O importante é que não houve dano ambiental severo. Não houve praticamente vazamento de óleo. Filmamos e fotografamos. Não só nós, mas os russos e chilenos, também.
Gozado, o Marzão encostou no fundo e a frente, que estava prevista, despencou. Até então havia calmaria total.
Primeiro o vento começou a aumentar, depois uma forte nevasca despencou. Em seguida ventania e ondas.
Ondas, este é o maior perigo que barco enfrenta neste momento. Muito pesado, cheio de água, com a quilha e casco encostados em pedras, o Mar Sem Fim, se for sacudido pela tempestade que começou, pode sofrer sérios danos estruturais. E até partir ao meio.
Não seria justo acontecer isto depois de tanto trabalho. O pior é que não há nada que a gente possa fazer no momento. Temos que esperar a maré subir, dentro de mais cinco horas, para voltarmos à praia, esgotar a água dentro do barco ao mesmo tempo em que o puxamos mais para fora do mar, com um trator da base russa, até que ele fique safo dos humores do clima.
Tivemos que sair às pressas da praia, e voltar de bote ao navio, sob o risco de termos que passar a noite por lá.
Quase fiquei. Poderia dormir com os chilenos, ou os russos, e assim continuar ligado a alguma rede pra poder informar.
Mas dei bobeira e voltei. Tomamos um banho de mar gelado. O vento era contra nosso trajeto.
Resta torcer que a rede chilena tenha voltado. Se isto acontecer, mesmo demorando um tempão, eu consigo contato através do modem telefônico que comprei em Punta Arenas.
Estou com medo.
O Felinto Perry está jogando neste momento -15hs46- sinal que há ondas por aqui, a duas ou três milhas da praia onde está meu barco.
Que merda, quase no fim, mais um problemão no caminho.
Se passar por esta, amanhã mesmo, ou assim que a frente for embora, o Mar Sem Fim  começa a ser reparado para atravessar o Drake, rebocado, de volta a Punta Arenas.
Só quando ele chegar lá, o epílogo, que começou há pouco, terá terminado.
Não vejo a hora de fechar esta história.
Atualizado novamente às 18hs 29 – hora local.
17hsO8
Acabo de voltar de nova reunião convocada pelo Comandante Luiz Felipe. Participaram Plínio, don Francisco Ayarza, um dos oficiais de bordo, Capitão de Corveta Kristoscheck, que também foi um dos que mergulhou hoje, e uma representante do Ibama, Fernanda, que embarcou poucos dias atrás.
O Comandante tomou a palavra para explicar que a Marinha do Brasil está aqui apenas para colaborar, não sendo responsável por qualquer dano, ou problema ecológico que aconteceu, ou venha a acontecer.
Não é preciso reforçar que qualquer problema causado pelo acidente do Mar Sem Fim é de minha inteira responsabilidade.
Logo depois do acidente, em abril do ano passado, estive com o gerente do programa antártico brasileiro, Contra-Almirante Silva Rodrigues. Naquela ocasião falei de meu constrangimento pelo acidente, e reafirmei que não fugiria às minhas responsabilidades.
A reunião a bordo prosseguiu: a funcionaria do Ibama explicou “que houve vazamento de óleo, sendo que parte dele chegou à praia, do lado de Fildes, mas não do lado russo”. Já expliquei em matérias anteriores que, na mesma praia que dá face para a baía onde aconteceu o naufrágio, há duas bases. De um lado os chilenos de Fildes, de outro os russos de Bellingshausen.
Fernanda completou dizendo que será preciso fazer algo para minimizar o impacto.
Para encerrar, os oficiais brasileiros pediram que eu conversasse com don Francisco, que não entende o português falado nas reuniões, para que, quando formos à praia de novo, hoje ou amanhã, o barco seja cercado com a barreira de contenção pelos funcionários dele.
De volta à cabine traduzi o ocorrido para meu companheiro de quarto. E assim, pelo bem da verdade, fica registrado em minha cobertura mais este evento.
Faço, entretanto a ressalva: do meu ponto de vista, sem querer com isto contestar outros, honestamente,  “o importante é que não houve dano ambiental severo. Não houve praticamente vazamento de óleo.”
Ao menos até este momento.
Agora são 17hs56 – hora local.
O vento, que já chegou aos 3O nós, baixou agora para 2O.
Outra boa notícia: 15 minutos atrás falamos, via rádio, com a Capitania dos Portos Bahia Fildes, do Chile, que tem contato visual com o Mar Sem Fim.
Até aquele momento não constava nenhum novo dano ao barco.
Mas tudo pode mudar. Tanto pode vir um vento fortíssimo como, de repente, calmaria.
Esta vai ser uma longa noite de vigília, ao menos para mim.
Tendo novas informações, vou passando.

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